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sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Quebre este ciclo!

Meu pai foi um verdadeiro pai herói! Trabalhava muito, mas sempre (ou quase sempre) voltava para casa antes da nossa hora de dormir, os finais de semana eram dedicados à família, os passeios eram os mais diversos, quase tão grandes quanto sua imaginação. Ele nos fez fantasiar, criar, sonhar e saber que somos capazes de tudo. Pai amoroso e presente, sempre.

Devem estar se perguntando porque estou contando tudo isto. Meu pai teve uma infância, não só muito humilde, mas sofrida. Além da escassez de dinheiro e dias que passou apenas com um copo de leite, ele não recebeu carinho. Ele e os irmãos passavam o dia com uma tia avó, com certeza aprontavam suas traquinagens, recebiam castigos, palmatórias. Quando o pai retornava do trabalho escutava as reclamações da tia e isto gerava surras de graveto, cinto e o que estivesse ao alcance.

Aos 8 anos ele começou a trabalhar com a minha avó: ela era lavadeira e ele carregava as roupas para ela e ajudava nas entregas. Provavelmente ele achou que sua vida melhoraria, infelizmente os castigos físicos foram trocados por humilhações emocionais.  Gritos eram corriqueiros e ela não perdia oportunidade em tentar desacredita-lo, humilha-lo.

Poucas pessoas sabem disto. Hoje abro a história de uma pessoa tão importante na minha vida, tão maravilhosa, com um único objetivo. Mostrar que é possível quebrar o ciclo.

Não vou dizer que meu pai não tinha temperamento forte, que não teve que lutar ainda mais por seus objetivos e até brigar com a tendência a depressão. Ele teve sim momentos em que seu passado o influenciou negativamente. Recebi um cascudo do meu pai, uma única vez. Tenho certeza que doeu mais nele do que em mim. Depois deste cascudo recebi  apenas “sermões”, longas conversas, estas sim me marcaram, mas também me ensinaram muito.

Quando minha avó faleceu o enterro teve pouquíssimas pessoas presentes. Meu pai, em um momento em que estava apenas com minha mãe (eu estava presente, mas afastada) chorou muito, chamando por sua mãezinha. Ele cuidou sempre muito bem de sua mãe, mas aquele choro não parecia um choro só de saudades, mas um choro pela mãe que ele desejou um dia ter.

A mensagem que quero deixar é que não importa o passado, podemos crescer, melhorar. Não importa se recebeu palmada e está bem, se sua mãe gritava e você superou, é possível fazer melhor. Em casos como o do meu pai, até dar o carinho que nunca recebeu. O cliclo de violência pode e deve ser quebrado. É possível, eu vi!

Para quem ainda não leu, publiquei aqui um texto em homenagem ao meu pai

Para ler mais textos criados para #blogagemcoletiva visite o Blog da Ti

Para mais informações sobre o assunto indico o site da rede Não Bata. Eduque.

10 comentários:

@blogdati disse...

Ana, assim você faz a gente chorar, meu Deus do céu. Eu sou muito emotiva, então meus olhos ficam marejados com frequencia ao ler testemunhos ou ver cenas que transmitem a dor das pessoas... assim, ao imaginá-la contando as recordações da difícil infância do seu pai, facilmente tive vontade de confortá-lo, como se fosse possível. Fico feliz por você e entendo que seja uma grande vitória pessoal saber que seu pai foi um pai amoroso, companheiro e capaz de superar amarguras, dificuldades e frustrações da infância para fazer melhor e diferente daquilo que foi sua realidade. Isso é louvável. Parabéns.
Meu pai é um homem assim também, de bom coração, esforçado, capaz de vencer vícios e superar dificuldades, mas é duro, comedido nas emoções. Filho de imigrantes numa fase difícil na história do nosso país, as oportunidades demoraram a surgir e o pai que ele foi para nós, certamente, foi muito diferente do pai que teve. Embora severo e capaz de soltar uma farpas no discurso de vez em quando, não jamais usou da violência como solução para reprimendas ou castigos. Minha irmã costuma dizer: um homem simples que traz um conhecimento natural de como se deve ser bom.
Postei seu link entre os colaboradores da #blogagemcoletiva. Um beijo. Ti

Anamaria - uma @MaeMaluquinha disse...

Ti, tivemos sorte de ter pais sábios, como sua irmã disse muito bem, com "conhecimento de natural de como ser bom".
Acho importante mostrar para as pessoas que é possível superar, e melhorar, sempre. Não é pq tivemos determinado exemplo e estamos bem que devemos copiar. Podemos e devemos fazer ainda melhor.
Bjos

Maribel Barreto disse...

Querida Ana Maria, estou emocionada com seu depoimento. Eu tambem sou fruto de superações. No caso a minha superação. Tive uma infancia "cão", que nem vale a pena recontar aqui, e hoje com dois pequenos, todos os dias venço dragões e mais dragões. É difícil! mas é possível!

Anamaria - uma @MaeMaluquinha disse...

Maribel,
bom saber que mais pessoas são capazes de quebrar este ciclo. Que você tenha sempre muita força e paciência para vencer os dragões... a recompensa eu sei qual será, a admiração, amor e companheirismo dos seus filhos!
Obrigada por dividir conosco um pouco da sua experiência
Um forte abraço!

Renata Rainho disse...

oi, eu estou atrasada, mas o texto é atemporal né...

Também acredito no Quebre o ciclo e seu pai é grande exemplo, parabéns por ser filha dele e conseguir dar valor a isto.

Eu entendo bem o que é : ter saudade dos pai/mãe que nunca teve...

Jani disse...

Me emocionei com a história de seu pai, Aninha! Lindo texto! Linda iniciativa a sua! Linda Campanha!

Anamaria - uma @MaeMaluquinha disse...

Renata,
sim, tive na vida como um grande presente um pai maravilhoso. Eu sinto que você passe por isto, mas tenho certeza que fará diferente.

Jani,
a iniciativa foi da Ti do BlogdaTi, eu só colaborei ;-) Feliz que vc tenha gostado. Bjocas

Andanhos disse...

Anamaria, que história emocionante!
É um grande exemplo de superação e de que as coisas não precisam se repetir. Seu pai deu a vocês o carinho que ele gostaria de ter recebido.
Beijos.

Beta disse...

Lindo, lindo esse post! Fiquei arrepiada. Obrigada por dividi-lo com a gente.
Com certeza, dah pra quebrar o ciclo!
Beijinho!

Anamaria - uma @MaeMaluquinha disse...

Liege,
sim...superação. Meu pai demonstrou poder superar todos os obstáculos e passado. Não canso de repetir que tive muita sorte de ter ele como pai.

Beta,
feliz que tenha gostado. Não foi fácil escrever apesar de ser um ótimo exemplo